segunda-feira, 10 de março de 2008

Graça para ser vivida

Outro dia alguém falou pra mim: fulano é uma pessoa sem graça. Sem querer me peguei refletindo tão grave afirmação. Uma pessoa sem graça, sem dúvida, é a própria estagnação e esvaziamento de esperanças. Olhos sem brilho e dia sem sol. Com diz São Pedro, fonte sem águas, nuvens levadas pelo vento (2.º Pedro 2.17). Por mais que alguém esteja auto-comiserado em suas angustias, há uma graça mínima q ue o mantém vivo.

O pastor Paulo Cezar do Grupo Logos retrata numa de suas canções o cuidado cotidiano de Deus para conosco quando diz “ acordar bem cedo e ver o dia a nascer e o mato molhado anunciando o cuidado”. Esse cuidado de Deus em mandar o orvalho diário para regar o vegetal que nos alimenta é uma manifestação espetacular da Graça de Deus. Ele poderia muito bem não se ocupar com esse detalhe, mas sua Maravilhosa Graça nos mostra que cada detalhe de nossa vida é importante para Ele.

É claro que o Calvário reflete a maior manifestação de graça jamais vista em todos os tempos, é o cumprimento de que um menino nos nasceu (Isaías 9.6), é a exteriorização de que um Filho se nos deu. Deus deu. Deu de graça, nada pediu em troca. Nos amou de tal maneira, foi uma graça tão grande que Ele deu o seu melhor. Mas como diz Charles Colson, o Evangelho vai muito além de João 3.16, além das nossas devoções pessoais, além das atividades na igreja. É algo pra ser vivido. Se nós cristãos não vivermos essa graça, ninguém mais vive.

Como vivemos essa graça? Não falo aqui da teologização do tema, mas de aspectos práticos. Por exemplo, num de nossos cultos de Segunda-feira, o templo estava superlotado aí uma visitante viu um lugar vazio e sentou. Minutos depois chega uma irmã e diz “pode levantar daí que esse lugar é meu”. Notei que havia muito fervor naquela irmã, mas pouca graça. O mesmo se diga quando no bairro onde moramos nos furtamos de ajudar a comunidade a resolver um problema em comum. Nosso atitude voluntária é o exercício da graça prática que pode criar espaços para comunicar uma graça maior ao não-cristão. Essa graça se espelha numa atitude amor para com os inimigos.

Um dos testes para saber se vivemos a graça é saber viver em unidade na diversidade. Muitos cristãos nominalmente nascidos de novo, têm dificuldade de conviver com quem tem um ponto de vista diferente do seu. A intolerância com os irmãos é inversamente proporcional à graça prática. Devemos irradiar graça para alguém ainda que este sirva a Deus de maneira diferente da nossa, pois a ótica de Deus é acima da nossa miopia.

Temos a tendência de valorizar os defeitos daquelas pessoas achamos ser sem graça. Criamos cercas e mecanismo de afastamento a ponto de não comungarmos as mesmas amizades e os mesmo lugares e sabores. De repente até achamos que o nosso “Deus não é o mesmo do irmão sem graça”. Ignoramos nesse momento o conceito de Corpo. As nossas convicções acrescida da pouca graça que carregamos nos faz ignorar que Jesus também morreu pelo nosso “irmão sem graça”. Ao invés de valorizar os defeitos, Deus os minimiza. Davi foi preciso quando diz o Senhor não nos tratou segundo as nossas iniqüidades (Salmo 103.10), ou seja ele no deu graça, apesar de nossos erros, de nossa chatice, de nossos gostos tão diferentes.

Devemos ter a bondade de prontidão. Dispostos sempre a ajudar, tendo em nós a benignidade para encarar à todos sem discriminação. O verdadeiro amor não suspeita mal. Um coração alcançado pela Graça Salvadora deve mostrar sua vida nova vivendo a graça em seus aspectos práticos. Benignidade é o inverso da malícia. É a capacidade de viver intensamente querendo e praticando o bem. É a indisposição para a malícia, para a inveja e para a maledicência. É o coração aberto para aceitar os mais fracos.

Os filhos de Zebedeu queriam queimar uma aldeia de samaritanos porque não quiseram recebê-los. Jesus, porém, foi absolutamente contrário a essa idéia. Lembro de um irmão que ao ser demitido de uma empresa amaldiçoou a mesma diante de sua portaria numa atitude sem graça. Conheci outro que disse: toma cuidado comigo, sou “servo de Deus”. Ora o verdadeiro servo não inspira ameaças. A graça nos faz dar pão ao soldado do outro exército.

Não somos grandes servos de Deus, somos servos de um grande Deus. Nesses tempos de marketing pessoal onde a auto-promoção está em alta, a humildade pregada pelo Cristianismo parece estar fora de moda. Atitudes soberbas promovem o “eu” no lugar no “nós”, promovem a carne no lugar de Cristo. Esse problema acometia aos filipenses, aí São Paulo disse para cada um considerar os outros superiores a si mesmos. Que nada fosse feito para autopromoção. Hoje ele diria faça o seu site pessoal mas não por vanglória, não promova a si mesmo, promova a humildade. Façam um site contra a soberba e a auto-promoção. O que mais me admira é que Deus resiste aos soberbos. Aos humildes, porém, ele dá graça. Então a humildade é requisito para viver a graça.

Nossas atitudes devem ser benignas para com quem pensa e age contra nossa maneira de ser. Tanto para com cristãos ou não cristãos. A pergunta qual a sua religião ou qual a sua igreja, perde sentido diante da vida em graça. Nossas atitudes falarão mais altos que os nossos dogmas. A graça nos ensina a abraçar os diferentes. Não tenhamos um amor fingido. Se teu inimigo tiver fome, da-lhe de comer (Romanos 12.9,20). Chame o aquela pessoa chata para um café. Chame o “sem graça” para um passeio. Gaste tempo praticando a graça, porque a graça é para ser vivida.

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